segunda-feira, 30 de julho de 2012

Trem XIX

Sentado na estação de trem [como eu adoro a dinâmica dos trens, com como dizem os britânicos ''The Rail'']. Observo os seres que passam por mim, é um encanto poder notar as figuras que se apresentam. Um mulher prá lá de meia idade, em um longo vestido vermelho, com botinas pretas caminha tranquilamente, em direção a uma das plataformas, tem um olha satisfeito, feliz ou chapado. Passa por ela apressado um executivo, com seus moccasins brilhando mais que a prataria da rainha, e seu terno impecavelmente passado, parecendo que foi costurado no corpo, ele quase corre, ou seja aquele momento que todo mundo ja passou em que voce quer correr mas não corre. Tenta se sobrepor ao mar de zumbis, sim, problema comum na Inglaterra, zumbis estão por toda parte, temo logo chegará no Brasil. Malditos smartphones e suas variaçoes iphonológicas.
No lado oposto, um moço bem despojado [despojado, riponga mesmo!] caminha com suas botas enlamaçadas e com uma bolsinha onde sabe lá o que se esconde dentro. Como a dama de vermelho e botas pretas, tem um olhar tranquilo, olha para um telão, acredito fielmente que está a ver mais que apenas letras,  porém eu [invejoso] só consigo ver letras, gostaria de ver mais.
Desvio meu olhar, uma mocinha em vestido de boneca corre em direçao a duas senhoras, chegando perto grita UHAA! Todas riem, se abraçam, juntam a bagagem e se vão. Um senhor muito distinto, portando uma bengala lê atentamente o jornal, suas sombrancelhas exibem preocupação, mas sua face mostra uma doçura sem fim, de quando em quando, dá um gole em um café, ou chá? Ou run? Bem não sei.
Oficiais passam por mim, senhoras empurrando um carrinho, um senhor gordo do lado de fora anuncia o fim de mundo, como se ninguem soubesse, ou melhor, como se só ele soubesse.
A estação moderníssima perde um pouco no charme para uma estação do século 19, mas tem seu encanto e seu próprio carisma. Não há sapateiros, correios, banca de flores, Bancos em madeira  e metal, luminárias a gás com sua chama verde. Não há senhoras em longos vestidos, banca de peixe, ou um moleque em calças curtas furtando a carteira de quem passa. Não há telégrafo, não há outro rapazote gritando extra extra. Não há fumaça saindo das chaminés dos trens, nem mesmo há chaminés.
Em vez dessas coisas antigas e bonitas, eu vejo uma loja de sushi, no melhor estilo japonês, ou seja, bem louca. Uma pilha de Lojas de conveniencia, há uma banca de chapéus, gravatas, lenços e cintos que resiste ao tempo com preços exorbitantes. Grandes franquias de café, oficiais com seus coletes verde fluorescente, como se não bastasse o chapéu que parece uma bacia com um distintivo encravado. Alguns funcionários do Jornal gratuito distribuem exemplares, de  forma silenciosa e educada. Os guichês que vendem passagens estão sendo substituidos por máquinas automáticas, onde senhores e senhoras idosas se esforçam para enchergar as letras. Os trens são rápidos, precisos e silenciosos. Os apitos se mantêm. assim como os trilhos, mas a fumaça se foi e somente a eletricidade corre nas veias dos monstros de ferro. luminarias de led clareiam até a alma do demônio, não há penumbra, nunca. Bancos de metal, no formato da curva de sua coluna esfriam a traseira de quem senta. Os caixas eletrônicos são os mais frequentados, e nem mesmo os pombos deixaram de voar furtivamente pela moderníssima estaçao. Câmeras por todas as partes, registram o andar furioso de uma sociedade sedenta por informaçao, mas impaciente para desfrutar os pequenos prazeres que uma estação de trem pode oferecer... ahhh século 19, porque fugiu de mim, sem que eu se quer tivesse a chance de te conhecer?

Um comentário:

Penkala disse...

passou por todos nós. como um trem bala, o apressadinho. eu, que não tive tempo de flanar pela Paris fin du siècle, hoje dou um sorriso infantil quando o recepcionista do hostel em Buenos Aires diz que tem um bonde aqui perto que eu posso pegar.