sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Flashback de outro universo.

Entrei naquele prédio caindo aos pedaços. O que foi um dia eu não sei, mas se foi, foi a muito tempo. Hoje mesmo com aqueles buracos no teto, ganhara uma nova vida. Fazia bem o estilo dela. Provavelmente se eu fotografasse alguns cantos bagunçados daquele lugar conseguiria algumas boas chapas em preto e branco. Mas minha ultima empreitada me tomou muito tempo. A máquina fotográfica estava esquecida em algum lugar da minha biblioteca.

Um pouco mais ao fundo, com pouca iluminaçao, estavam alguns amontoados de hormônios, adolescentes, que pulavam corda freneticamente. Alguns de longos cabelos, algumas de cabeça raspada, outras parecendo um filme hollywoodiano, com maquiagem excessiva e olhares perdidos nos rapazes de corpo esbelto.

Ao redor de um ringue improvisado, aparelhos para o treino. Alguns novos, outros não. No centro do ringue, rodeada por seres bufantes, estava ela. A mesma de sempre. Roupa preta, cabelos malucos, óculos, um tênis desgastado. Sorria e arregalava os olhos, fazia cara de má. Apontava o dedo, e mandava o rapaz loiro pular direito. De vez em quando rodeava um e dava um sopapo, de leve, na nuca. O velho sinal de afeto.

Quando há tempos atras ela me contou que iria tirar a  licença para boxe, não acreditei e pensei que seria mais um papel para enfeitar a parede da casa dela. Mas não. Formou uma escola, pra botar na linha aqueles delinquentes enrustidos de espinhas que rondavam o bairro. As mães estavam agradecidas

Enquanto pulavam, a central de midia tocava músicas que nenhum daqueles fedelhos conhecia, foram sucesso a tempos, em nossos tempos. Ninguem me viu entrar, a não ser um ruivinho que era tímido demais para me delatar. Ela estava de costas para a porta do então Ginásio.

De mansinho, tirei o blazer. Abri minha mochila, havia o tênis e as luvas. Tudo friamente calculado como de costume. Arremanguei as calças a altura do joelho. Meus tenis brancos contrastavam com as meia pretas. Não era uma boa roupa para o treino. Mas o que valeria era a surpresa em ser visto. Há tempos não nos viámos. Sempre o universo estava a conspirara contra nós. Embora encontrasse ela na rede de tempos em tempos. Nossas rotinas diferentes mas igualmente cheias causavam desenconros.

Estava concentrada em contar um história engraçada, daquelas que só ela consegue vivenciar. Os adolescentes, pareciam estar em transe. Ela sempre impressionava, especialmente os mais novos. Ela parecia feliz. Calmamente entrei no ringue. Duas mocinhas me analisaram dos pés a cabeça e sorriram.
Ela notou o sorriso. ''Que foi falei besteira?'' perguntou em tom crítico. As mocinhas sorriram de novo, desta vez com barulhos ofegantes. ''Que foi?'' ela perguntou em tom preocupado. Me preparei, sabia que minha presença seria revelada. Pus-me em guarda. As mocinhas disseram '' Treinadora a senhora tem visita'', ela se virou... Toda uma vida de lembraças coube em apenas um olhar.

Nenhum comentário: