domingo, 9 de setembro de 2012

Entropia

Em um súbito abri meus olhos. Ainda era noite, conferi cegamente o celular. Imaginei que seriam 3:53 da madrugada. Em raros momentos de insônia esta é a hora que meu organismo me desperta. Ha tempos isto acontece. Geralmente precedido de algum evento que vai bagunçar a minha vida.

Conheço este súbito. Peguei um copo dágua, embora quisesse mesmo um gin tonica. Abri com dificuldade a janela. Não tenho força ao despertar. Aquela diabólica brisa morna veio ao meu encontro. Pensei que isso só acontecesse no Brasil. Ouvi o barulho das folhas nas arvores e daquelas que precocemente já estavam no chão.

Sinais evidentes de que a Entropia estava por agir. Esta vadia sem coração que bagunça minha vida. Estava tudo muito acertado, pelo menos o plano para os próximos três anos. A poucas semanas atras os novos planos foram finalmente terminados. Estava começando a mover as variáveis da equação para que de alguma forma influenciasse o caos a fluir de acordo com meu agrado. Sabia que acabaria chamando atenção dela. 

Tentei ver alguma estrela. Não consegui, sinto falta do céu estrelado de minha adolescencia. Daquelas noites que saia escndido para o telhado. Olhei as folhas. Continuavam agitadas. O outono ainda não chegou aqui, mas já havia amarelado algumas arvores.

Fui até a cozinha, um café viria em boa hora, já que não posso fazer um chimarrão. Não adiantaria tentar dormir. Eu não conseguiria. Fiquei a esperar a notícia que certamente chegaria em algumas horas. Sem qualquer sentimento de ansiedade, tristeza ou aflição. Taopouco felicidade ou alegria. Eu sabia que algo viria. Se fosse bom ou ruim, isso só o tempo mostraria. 

Olho o Facebook, esta porcaria não é mais o que costumava ser. Lotado de gente com necessidades psicológicas evidentes ou pura falta de laço. Poluido, não consigo mais acompanhar quem tem algo importante para dizer. Um mar de mensagens de alto ajuda. De preconceito, de religião ou causas próprias. Marés sem  fim de plágios inconsequentes, que em oitenta por cento das vezes, é postado sem um nanosegundo de pensamento sobre o real significado. Futilidade, por demais. Futilidade, falsidade. Mil teorias comportamentais se confirmam ali. Não precisamos mais de macacos.

Volto para a janela. O vento amornado se foi. Quer dizer que aquilo que vem ao meu encontro está a caminho. Seja lá o que foi que está por ser comunicado, já foi despachado. Notícias voam em tempos digitais, melhor, se teletransportam.

Abro minha caixa de e-mails. O título do e-mail já causa a surpresa que estava por esperar. Clico, leio e suspiro. Tres anos de planejamento jogados ao vento, queimados e submetidos à vácuo. Uma nova janela se abre em minha frente e exibe um letreiro luminoso em letras garrafais: PULE.

Misturado a adrenalina do momento e os sentimentos de felicidade e realização depertos pela notícia, vem o desapointamento. Fecho o computador. Lavo a caneca. Volto para a cama.

A vida acaba de ser bagunçada mesmo, e pela teoria do caos, nao há muita coisa a se fazer a respeito, pelo menos por enquanto. Volto a dormir, enquanto uma vadia sem coração bagunça o Universo

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